Clube illy do Café Em Foco – Número 37

Vamos agora às recomendações do consultor técnico da Experimental Agrícola para as regiões do Sul de Minas Gerais e Estado de São Paulo, Cesar Candiano, compartilhadas durante a live que transmitimos no nosso perfil do Instagram:

“Nós defendemos e trabalhamos para a produção sustentável do café de qualidade. Sendo um alimento, o café deve ser produzido de maneira segura, porque devemos evitar qualquer tipo de risco para a saúde do consumidor, e, pelo contrário, ele tem que trazer benefícios para a nossa saúde. Nós conhecemos o prazer que o café traz para nossa vida, no nosso dia a dia em diversas situações. Vamos falar então da sua produção segura, que depende da adoção de boas práticas antes da colheita, durante e depois dela.

Primeiro, a nutrição balanceada que deve haver entre macro e micronutrientes para que mantenham as lavouras sadias e facilitem a produção. Aí vem uma recomendação agronômica, com base em trabalhos que fizemos em relação à emissão de gases de efeito estufa. Identificamos que mais de 80% da emissão desses gases na cafeicultura são provenientes das adubações nitrogenadas e da calagem, sendo que 70% vem da adubação nitrogenada. Então ela deve ser bem feita, de maneira consciente, com recomendações agronômicas e baseada na análise de solo. Sabemos também que a adubação orgânica ou organomineral impacta muito menos o meio ambiente em relação à emissão de gases de efeito estufa.

Sobre o controle de pragas e doenças, na época da pré-colheita, é importante só sempre utilizar produtos que sejam recomendados para o café, evitando de qualquer maneira outros produtos que não tenham o registro para a cultura. Bem como usar o princípio ativo certo e no momento certo. E, assim como na adubação, respeitar sempre as recomendações agronômicas e fazer a regulagem dos equipamentos.

Sempre que possível, é recomendável trabalhar com produtos biológicos, mantendo os inimigos naturais que existem na lavoura. Hoje um grande desafio é produzir um alimento livre de resíduos, o que não necessariamente significa fazer cafeicultura orgânica. Significa adotar outras atividades dentro da propriedade para diminuir os resíduos que temos no café, evitando dessa maneira um LMR (Limite Máximo de Resíduos) excessivo. Respeitando o número máximo de aplicações e também o período de carência dos defensivos. O período de carência é o tempo entre a aplicação do produto e a colheita, variável de acordo com o defensivo que você utilizou. Nesse período nós não podemos colher o café, é preciso respeitar isso.

Em relação ao controle de plantas daninhas, devemos usar produtos específicos, evitando o aumento da dosagem de glifosato, que tem um resíduo com restrições rígidas dentro do LMR. Sempre que possível, diminuir o número de aplicações também, trabalhando mais com os controles mecânicos, como trincha e roçadeira, para reduzir o uso do defensivo.

É importante nunca reutilizar embalagens vazias de agroquímicos, mesmo que seja para preencher de areia ou água como peso para segurar a lona do café no terreiro. O café é facilmente contaminado, então isso não pode acontecer. Qualquer tipo de reutilização é proibida.

Atenção ao controle de bicho mineiro ou qualquer outra pulverização que seja feita durante o período de colheita. Tome muito cuidado com o período de carência e se for possível espere, fazendo primeiro a colheita e entrando com o controle posteriormente.

Com relação à infraestrutura da propriedade, reforço a questão da limpeza, pois a contaminação pode desenvolver fungos que prejudicam o café, gerando condições inadequadas de fornecimento. Muito cuidado com as carretas também, que transportaram adubos, defensivos, esterco e combustíveis, pois resíduos que possam ter ficado nesses equipamentos podem contaminar o café que será depositado nessas carretas também.

E durante a colheita? Avalie a área que vai ser colhida para ver se ela já está liberada em relação ao período de carência dos defensivos aplicados. Faça a rastreabilidade da produção, ficando atento às áreas com o maior potencial de produção de café de qualidade, maturação homogênea, lavouras de maior altitude, posição do sol nascente e poente. Normalmente a face de sol nascente tende a proporcionar uma qualidade de bebida melhor. Se o produtor não faz a rastreabilidade, ele não sabe qual lavoura forneceu aquele café de qualidade superior. Então é importante a rastreabilidade desde o início até o final para que ele leve em conta os detalhes de qualidade que aquela região ou área proporcionou.

O Dr. Aldir comentou a questão de não deixar o café amontoado, isso é muito importante agora, seja em sacaria, carreta ou moega, pois pode fermentar. Separe os lotes que receberam mais controle, principalmente glifosato e clorpirifós. O LMR do clorpirifós vai mudar, vindo para um valor bem menor, então evite misturar os lotes com diferentes aplicações desses defensivos, bem como armazenar o café junto com defensivos, combustíveis e outros materiais.

Para finalizar, lembre-se de reduzir o uso das águas e gerar menos água residuária, recicle a água e reutilize-a nas lavouras dentro do possível, porque ela é rica em potássio e matéria orgânica, valendo dinheiro para nós. Reutilizada em áreas agrícolas, ela não contamina o meio ambiente. Quando for descartar, faça sempre em bacias de contenção impermeabilizadas.

  • Para ler a edição anterior, com as orientações de Márcio Reis, clique aqui
  • Para ler a edição com as orientações do Dr. Aldir Teixeira, clique aqui

Na semana que vem, traremos o consultor técnico Sergio D’Alessandro falando sobre gestão da propriedade rural. Até lá!