Clube illy do Café Em Foco – Número 38

Hoje trazemos as recomendações do consultor técnico da Experimental Agrícola para as Matas de Minas, Sergio D’Alessandro, compartilhadas durante a live que transmitimos no nosso perfil do Instagram:

Entendemos que melhorar a gestão da propriedade de café é de suma importância para ajudar nós produtores neste cenário dinâmico que a cafeicultura vive. Gestão é fazer as coisas bem. No caso da fazenda, a boa gestão trata-a como empresa, independentemente do seu porte. É a fazenda-empresa, aquela que tem um projeto e um gestor que sabe onde quer chegar.

Às vezes chegamos a uma propriedade rural e vemos produtores e sua equipe trabalhando sem parar, é muito comum isso na época da safra. O pessoal corre bastante e no final do dia tem atividades inacabadas. Aí vamos em outras propriedades, onde o dono não está presente ou vai à propriedade uma vez por dia, ou algumas vezes por semana, e a propriedade funciona sem qualquer problema. Por que isso? Porque nesta propriedade que “anda redondinho” foram implementadas boas práticas de gestão e governança, e isso é de extrema importância.

Nós temos o SENAR e o SEBRAE com cursos gratuitos de alta qualidade para nós produtores implementarmos essas boas práticas de gestão em nossas propriedades. Nas fazendas onde tudo vai bem foram implementadas técnicas de gestão de pessoas e se construiu um time com atitude de dono, que entende que a propriedade rural é tão importante quanto sua família. Construir um time com senso de pertencimento é fundamental.

Na cafeicultura de hoje, administramos riscos, como por exemplo o risco climático, as variações cambiais e atualmente essa pandemia. O que até então valeu pode não valer mais, tendo que ser complementado, corrigido ou ajustado. Temos muita coisa para implementar, é um trabalho contínuo, que dura anos e passa de geração para geração. A começar pelas quatro ferramentas básicas de administração: planejar, organizar, dirigir e controlar. Vamos falar um pouquinho de cada uma para nosso dia-a-dia na propriedade rural.

1) Planejamento: Eu devo ter um planejamento semanal, mensal e anual. O anual nada mais é do que elencar todas as atividades de nossa propriedade para poder cumprir cronologicamente em um plano agronômico. E assim ter qualidade, uma boa produtividade e uma alta rentabilidade. O planejamento mensal é para práticas como por exemplo a poda de café. Pesquisas mostram que quanto mais cedo eu podar meu cafeeiro, maior o ganho na primeira safra colhida. Então é importante eu ter recursos e pessoas naquele período pré-determinado, para eu ter uma melhor quantidade na primeira safra e por consequência na safra seguinte. Tendo um planejamento mensal, eu posso acompanhar se essas medidas foram feitas a tempo e na hora correta. No semanal, dividimos as tarefas com os nossos colaboradores, para quando eles acabarem o trabalho no final de semana eles estarem cientes de quais atividades vão exercer na próxima semana.

2) Organização: Envolve não só as benfeitorias, limpezas e locais adequados para colocar insumos e defensivos, mas também a organização da coleta dos dados, que deve ser diária. Esses dados devem ser lançados em um software ou no nosso próprio caderno de campo. É preciso conhecer a fazenda nos mínimos detalhes, ter um mapa, que contempla toda a propriedade, talhão por talhão, a área de cada talhão, e assim por diante.

3) Direção: Quando falamos em dirigir, remetemos à gestão de pessoas, ou seja, o trabalho com os nossos funcionários. Devemos deixar de ser chefes e passarmos a ser líderes das nossas fazendas cafeeiras. O que é ser líder? Ser líder é ter respeito com nossos colaboradores e orientá-los para o trabalho focado em resultados, sem paternalismo. Esse foco é importante para atingirmos as metas, e para que isso aconteça precisamos estar trabalhando nessas quatro ferramentas que mencionamos. Como diretores, temos um trabalho contínuo de gestão de pessoas. Devemos identificar o papel de cada funcionário na empresa rural, esclarecendo o que ele vai fazer, como vai fazer e realizando uma avaliação contínua dele.

4) Controle: O que é controlar nossa atividade agrícola? No caso da cafeicultura, temos basicamente dois ambientes, o fora da porteira e o dentro da porteira. Fora da porteira nós temos o preço, que é regido por bolsas, moedas, parâmetros internacionais sobre os quais temos pouca influência e poder. Mas dentro da porteira, nós temos as regras nas nossas mãos e podemos desenvolver atividades para obter melhorias. Como posso melhorar a produtividade de uma fazenda em um programa de gestão? É usar a tecnologia adequada e adotar boas práticas, saindo de 30 para 50 sacos por hectare com o manejo de poda racional, com adubação racional, controle de pragas e doenças e controle do mato.

É controlar o custo de produção. A coleta diária de dados não pode ficar para o dia seguinte, tem que ser cumprida no prazo. Se hoje estou adubando café na minha propriedade montanhosa, tenho que anotar em qual talhão estou, quantas sacas de adubo usei e quantos funcionários trabalharam nisso, para no final daquele período eu saber quais foram os custos e o rendimento operacional de cada dia de trabalho, tendo claro qual é o custo de produção por área e por saca. Temos um projeto bacana dentro do SEBRAE, onde comparamos os custos de produção entre as propriedades. É muito rico, porque saímos do isolamento e crescemos muito com isso, abrindo o livro um para o outro, interagindo e aprendendo.

Por fim, recomendo trabalhar na busca de inovações e melhorias, prezando sempre pela produção de café com qualidade sustentável. A illycaffè sempre foi pioneira nesse quesito e nos orgulhamos muito. Nós devemos fazer a nossa parte.

  • Para ler a edição anterior, com as orientações de Cesar Candiano, clique aqui
  • Para ler a edição com as orientações de Márcio Reis, clique aqui
  • Para ler a edição com as orientações do Dr. Aldir Teixeira, clique aqui